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Carta manuscrita de Emiliano Di Cavalcanti (1939)

Carta manuscrita de Emiliano Di Cavalcanti (1939)

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"Pouco vendi e não consegui pagar uma divida. Os elogios foram muitos mas, não só de glorias vive o homem…"

Carta manuscrita inédita de Emiliano Di Cavalcanti para um amigo. Em português. Uma folha. 19 cm x 25.7 cm. Paris, 1o de janeiro de 1939. Bom estado. Peça única.

Transcrição da carta

Paris, 1 de Janeiro de 1939

Meu velho amigo

Esta é a primeira carta de 1939… Mais um ano dessa peno- / sa existencia que Deus me deu. Enfim vae se vivendo. Escrevo- / lhe a meia noite e meia [n]um café, ao lado do Radio e é por isso / que o papel é horrível. Que vae me trazer 1939. Não sei, nem quero / prever. 1938 terminou com uma exposição minha. Pouco vendi e não / consegui pagar uma divida. Os elogios foram muitos mas, / não só de glorias vive o homem… / As suas cartas fazem-se escassas o que não me deixa de incomo- / dar, porque penso num milhão de coisas. Acredito porem que voce es- / teja bem de saúde e que nada tenha acontecido a Ignez. / Eu estou fatigadissimo. Este trabalho imbecil do Radio me ma- / ta e eu preciso outra coisa, o que é difícil arranjar. / As vezes bate-me uma saudade enorme do Brasil. Nos dias de / grandes frios, eu só me lembro de me[u] Paquetá, desse calor dahí. / Noemia amanhã vae morar separada de mim, alugou um atelier / e está muito contente. Eu espero que ella seja feliz e trabalhe / muito na nova casa. / Esta carta é para lhe desejar um Feliz Ano Novo. Voce é o / unico amigo do Brasil que se lembra de mim eu tenho a impres- / são que fora de vocês mais ninguem dahi do Brasil sabe / que eu existo abraço a Ignez e a […]

O seu / Di Cavalcanti (assinado)

Não haverá brasileiro dentre os 200 milhões que povoam o país que não conheça o nome de Emiliano Di Cavalcanti (1897 - 1976). O grande pintor modernista, que ilustrou as cores do Brasil e popularizou a arte nacional ao redor do mundo, ainda está presente no imaginário popular, mas como era a vida do homem por trás do prestigiado artista? Afinal, Cavalcanti também atravessou tempos de guerra, saudade e melancolia.

Nascido no Rio de Janeiro no ano de 1897, Di Cavalcanti, ainda jovem, se aproximou das tintas dos e pincéis fazendo ilustrações para a revista Fon Fon. Em 1916, ele se mudou para São Paulo para estudar direito, mas logo começou a frequentar o ateliê do impressionista George Fischer Elpons. A partir daí, nunca mais deixou as telas, idealizou a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo, ingressou no partido comunista, casou-se com a pintora Noêmia Brandão, e, finalmente, instalou-se em Paris, na conturbada década de 1930.

Contudo, a estadia na Cidade Luz parece não ter sido um mar calmo para o artista, segredo por ele revelado na íntima carta escrita a um amigo. Em suas palavras, Cavalcanti conta que seu trabalho em uma rádio naquela época o fatigava e entediava. O grande pintor enuncia também que, naquele início de ano, possuía uma imensa dívida que o preocupava e fazia com que ele não tivesse boas expectativas com respeito a 1939. Mal sabia ele que aquele seria seu último ano na França, já que, com o começo da Segunda Guerra Mundial, Di regressaria ao Brasil para uma das fases mais férteis de sua carreira como pintor.

De volta a sua terra natal, Cavalcanti passaria a combater abertamente o abstracionismo, viajaria para o Uruguai e Argentina, expondo na cidade de Buenos Aires, e conheceria Zuília, que se tornaria uma de suas musas favoritas, além de ilustrar livros de figuras renomadas como Vinícius de Moraes e Jorge Amado. Ele ainda regressaria a Paris no ano de 1946 para buscar alguns de seus quadros desaparecidos, mas, acabada a Segunda Guerra Mundial já seria esse um novo mundo.

No entanto, ainda naquele final da década de 30, Cavalcanti conta, em sua missiva, das saudades que sente do Brasil e do calor de sua Paquetá; e revela ainda que sua esposa, Noêmia, se mudaria a um ateliê ainda que continuassem casados. O artista deseja-lhe felicidade, mas será que ele não se sentiu só?

O início de 1939 foi certamente uma época difícil para o grande artista, marcada pela saudade, a melancolia e as dúvidas. Finalmente, Di Cavalcanti regressou ao Brasil para logo voltar a ganhar o mundo, ensinando que, às vezes, um passo para trás também é um passo adiante, e, principalmente, mostrando que a vida é feita de movimentos, algumas vezes lineares, mas majoritariamente pendulares, um vai e vem que muitas vezes carece de sentido ou explicação para aqueles que navegam em suas ondas, mas sempre segue seu destino. 

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