Em 1954, Vinicius de Moraes expressa o desafio de ser pai à distância.
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Carta de Vinicius de Moraes para sua primeira filha, Susana de Moraes.
- Uma folha, uma página.
- Em português.
- 20.6 cm x 29.1 cm.
- Paris, 31 de julho de 1954.
- Estado médio, umas marcas de dobra, uma mancha de tinta que não prejudica o texto.
- Peça única.
Trechos
(...) É provável que muita gente ache que eu sou um pai ingrato, e mais de uma pessoa já chegou aqui dizendo: - Você precisa escrever para seus filhos…! Mas eu é que sei, filhinha. Eu sei como eu amo vocês. Tenho horror de escrever cartas. Cartas me parecem coisas artificiais, desde a obrigação de pôr um fecho em cima até o clássico final.
(...) A ausência é uma coisa terrível, e não há nada a fazer contra ela. Estou vendo se dou um jeito de ir em férias, no ano que vem, ao Brasil, para ver vocês, pois as saudades de você e Pedrinho são enormes, enormes e sem remédio. É um amor que não passa, esse de pai e mãe.
(...) Acho lindo eu ter tido parte na criação de uma mulherzinha que é esse amor que você é.
(...) Se eu acreditasse em Deus eu pediria aos céus saúde e todas as felicidades do mundo para você. Mas como eu só acredito em gente, é a você mesmo que eu peço, como se pedisse a Deus, que zele por sua saúde, cuide da sua felicidade (...).
(...) O tempo há de passar, seu pai há de ficar velho e toda essa grande ausência há de terminar para sempre. Então, nos veremos todos os dias, como deve ser. Pais devem ser velhos. Pais moços não deveriam existir. Eu, por mim, estou doido para ficar velho que é para ser apenas pai de vocês. Eu te amo, filhinha.
Em 1954, Vinicius de Moraes era diplomata e trabalhava como vice-cônsul do Brasil em Paris. Além de suas atividades diplomáticas, ele também continuava a desenvolver sua carreira literária e musical. Durante esse período, Vinicius de Moraes estava em contato com importantes figuras do cenário artístico e cultural, tanto do Brasil quanto do exterior, o que influenciou sua obra. Essa fase foi essencial para o amadurecimento de sua poesia e para sua aproximação com a música, que se tornaria central em sua carreira nos anos seguintes, especialmente com o movimento da bossa nova.
O poeta tinha uma relação muito próxima e afetuosa com seus filhos, expressando um carinho especial por cada um deles em diferentes momentos de sua vida. Ao longo dos anos, Vinicius escreveu diversas cartas carinhosas para Susana, sua primeira filha, especialmente quando estava no exterior devido ao trabalho como diplomata. Ele demonstrava nas cartas uma grande saudade e um desejo de estar presente em sua vida, revelando também suas aspirações, inquietudes e o orgulho que sentia por ela. Susana, por sua vez, foi uma figura de apoio para o pai e, como ele, seguiu uma carreira nas artes, tornando-se cineasta. Ela também foi responsável por preservar e divulgar a obra do pai após sua morte, ajudando a consolidar o legado de Vinicius na cultura brasileira.
Esta carta é Vinicius de Moraes em sua essência. Ele se questiona sobre seu papel de pai, a ausência, as saudades, a educação da filha, Deus, entre outros temas. Ele assina como “Darling”, apelido que Susana usava para chamá-lo. Cartas de Vinicius de Moraes são muito raras no mercado e, para sua filha mais velha, Susana, mais ainda; apenas algumas apareceram nos últimos 15 anos.