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Carta manuscrita de Francisco Curt Lange (1979)

Carta manuscrita de Francisco Curt Lange (1979)

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O musicólogo Curt Lange prestigia um colega pesquisador.

  • Carta manuscrita inédita de Francisco Curt Lange para Alden Dittmann, e seu cartão de visita.
  • Uma página.
  • Em alemão.
  • Berlim, 4 de setembro de 1979.
  • Excelente estado de conservação.
  • Peça única.

Tradução do alemão para o português

Atenciosamente dedicado ao Sr. Alden Dittmann em reconhecimento ao seu trabalho significativo de desenvolvimento que me impressionou muito. Após essa visita ao novo prédio do Instituto Ibero-Americano, espero poder retomar minha colaboração de longa data. Tudo começou em 1933 e foi muito bem com meu amigo Dr. Hans-Joachim Bock.

Berlim, 4 de setembro de 1979

Francisco Curt Lange

Conhecerá a música fronteiras? A formação tradicional nos ensina que sim, pois distintas nacionalidades criaram por todo o mundo múltiplas formas de expressar-se musicalmente. As influências culturais de cada porção de terra nesse planeta são responsáveis pela criação desses diferentes estilos, porém, ainda assim, a melodia conhece fronteiras ou seria ela algo universal, capaz de tocar-nos muito além do país cravada em nosso passaporte? Um teuto-uruguaio, responsável pela compilação de valiosas obras musicais brasileiras, parece ter transcendido o conceito de nacionalidade para deixar seu nome na história da música.

Franz Kurt Lange (1903 - 1997) nasceu na Alemanha, mas foi na América Latina que ele trouxe à vida suas maiores contribuições para a música do século XX. Lange chegou ao continente depois da Primeira Guerra Mundial e não demorou a nacionalizar-se uruguaio, mudando seu nome para “Francisco Curt Lange”, a forma pela qual se tornaria amplamente reconhecido. No continente americano, converteu-se em um experto na musicologia de países de fala hispânica como Argentina, Uruguai, Paraguai e foi responsável por iniciar o movimento do Americanismo Musical. Trabalhou também no estabelecimento de uma educação musical sólida no Uruguai, e na Argentina foi o responsável por criar o departamento de musicologia na Universidade de Cuyo, dando ainda aulas em várias universidades norte-americanas.

Além disso, Lange foi um colaborador essencial no Instituto Ibero-Americano, um centro de investigação da cultura latino-americana localizada em Berlim, função que muito o satisfazia. Como podemos ver na carta que em 1979 ele dedicou a Alden Dittmann, declarando-se impressionado por seu trabalho. Chileno de pai alemão, Dittmann se dedicou a organizar exposições e conferências no instituto, além de ter fundado sua fonoteca, compilando obras de todo o continente. Assim, não causa surpresa que Lange tenha admirado sua contribuição para o desenvolvimento do Instituto Ibero-Americano, e desejasse retomar seu trabalho com o centro.

Mas o musicólogo teuto-uruguaio pousou também em terras brasileiras, e aqui, foi no acolhedor estado de Minas Gerais que ele deixou suas principais marcas, realizando um trabalho sem precedentes na localização de partituras e manuscritos musicais produzidas por gerações de músicos desde o século XVIII. Há que lembrar-se que o ciclo do ouro ocorrido nessa época em Minas propiciou o desenvolvimento artístico da região, mas, até então, muito havia-se perdido através do tempo pela falta de registro e compilação, daí a importância da contribuição de Lange. Nos dias de hoje, seu trabalho está sob os cuidados do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, e continua sendo uma referência na música nacional.

Um homem aficionado de seu ofício, como podemos ver em sua carta que mostra seu seguimento de anos ao trabalho do Instituto Ibero-Americano, a paixão de Lange pela música regeu sua vida e contribui com a construção da história de todo um continente. A música, ainda que tenha uma nacionalidade e provenha de uma cultura, não conhece fronteiras, senão expressa sentimentos que não universais, talvez por isso ela tenha incitado o casamento desse alemão com a América, e a partir de seu trabalho, a música recuperou e conta parte de nossa História.

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