Exposição D. Pedro II - 200 anos, por Roberto M. Moreira e Carol Duenha

Exposição D. Pedro II - 200 anos, por Roberto M. Moreira e Carol Duenha

Mathias Meyer

No imaginário popular, a história do Brasil imperial costuma ser contada por meio dos museus, dos livros escolares e das celebrações oficiais. No entanto, há uma rede silenciosa e apaixonada de colecionadores, pesquisadores e comerciantes que atuam diariamente na preservação e valorização dessa memória.

Roberto Michetti Moreira é um desses guardiões da história. Licenciado em História e especialista em curadoria e museologia, ele não apenas coleciona documentos e objetos ligados ao Segundo Reinado, como também leva sua coleção a escolas, bibliotecas, universidades e museus por meio de exposições itinerantes.

A paixão de Roberto pela figura do imperador Dom Pedro II ultrapassa o ato de colecionar. É um compromisso com a memória nacional. E mais do que isso: seu trabalho revela o quanto colecionadores e comerciantes privados — como nós, da Glórias — são parceiros estratégicos das instituições culturais. Sem eles, muitas peças não seriam redescobertas, contextualizadas, conservadas nem transmitidas às novas gerações.

Roberto, você pode se apresentar?

Me chamo Roberto Michetti Moreira, possuo 33 anos e sou natural de Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Sou licenciado em História pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, pós-graduado em Curadoria, Museologia e Gestão de Exposições; e Gestão de Museus com ênfase em Cultura. Como colecionador/pesquisador, capto peças e realizo estudos acerca do período imperial brasileiro, com ênfase na figura do imperador D. Pedro II.


O que o motivou a colecionar documentos e objetos relacionados a Dom Pedro II?

Trata-se de um interesse que vem desde a época da escola, quando me deparei pela primeira vez com a imagem do imperador D. Pedro II em meu livro didático. A princípio não foi nada demais. Já crescido, fui novamente provocado ao ganhar de minha namorada (hoje esposa), algumas cédulas que haviam pertencido a seu avô, dentre as quais uma com a efígie do imperador. Minha preferida. Dalí em diante, o que começou com um pequeno “ajuntamento” de itens colecionáveis, tomou forma e se transformou no acervo que atualmente possuo.

Como surgiu a ideia de organizar essa exposição e qual foi o principal objetivo dela?

Essa exposição faz parte de um projeto itinerante que visa levar cultura, tendo como ênfase o período imperial e a figura do imperador D. Pedro II, para escolas, bibliotecas, universidades, museus, espaços culturais e afins. Projeto esse, que desenvolvo juntamente com a Carol Duenha da Agência SC Turismo e Serviços, que também é minha esposa. Juntos, dividimos a curadoria, o projeto e a organização de todos os eventos como: exposições, dinâmicas escolares, palestras e outros.

Na sua opinião, qual é o papel dos colecionadores privados na preservação da história, especialmente em comparação com os museus?

Embora muitas pessoas não saibam, a relação entre colecionadores privados, preservação da história e museus, é mais antiga do que parece. Digo isso, pois os museus atuais possuem raízes e surgiram a partir de coleções privadas. Me refiro aos famosos “Gabinetes de Curiosidades”, tão comuns nos séculos XVI e XVII. 

Especialmente no Brasil, mas sem entrar em questão de viés político, não é segredo para ninguém que as instituições culturais vêm enfrentando há muito tempo dificuldades das mais variadas ordens. Além da falta de profissionais qualificados, temos a questão da falta de verba para aquisição de novos itens e até mesmo para a manutenção de suas estruturas. A todo momento acervos documentais são perdidos em inundações, museus pegam fogo, etc. 

Nesse sentido, embora lidem com acervos relativamente reduzidos em relação aos dos museus, os colecionadores privados cumprem um papel fundamental no que diz respeito à preservação de tais itens, sendo os mesmos, verdadeiros “guardiões da história”.

Você já teve colaborações com museus ou instituições acadêmicas? Como essa troca de conhecimento pode enriquecer tanto colecionadores quanto pesquisadores?

Sim! Desde julho de 2019, quando iniciamos o projeto, já fomos requeridos por diversas escolas e instituições culturais para a realização de parcerias. Além de palestras recentemente realizadas em escolas particulares de Florianópolis, que foram experiências muito enriquecedoras com crianças e jovens, não posso deixar de mencionar a exposição D. Pedro II nos Jornais e Pasquins de sua época, realizada na Biblioteca Pública de Santa Catarina (BPSC); e por último a exposição D. Pedro II – 200 anos, que, realizada no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa, esteve inserida nas comemorações do bicentenário do nascimento do imperador D. Pedro II.

Para você, qual é o documento ou objeto mais especial de seu acervo, e qual é a história por trás dele?

Bom... da exposição D. Pedro II – 200 anos, e do acervo em si, o lenço que cobriu o rosto da imperatriz D. Teresa Cristina em seu leito de morte, no Grande Hotel do Porto; e o poema manuscrito pelo imperador D. Pedro II no exílio, adquirido de você, Mathias, tem um significado diferente, pois gera uma reflexão muito profunda acerca dos anos finais dos imperadores, D. Pedro II e D. Teresa Cristina. 

Colecionadores privados e museus públicos são parceiros indispensáveis na preservação da memória histórica

A trajetória de Roberto Michetti Moreira nos lembra que a história não está apenas nos acervos públicos ou nas vitrines dos museus — ela vive também nos arquivos particulares, nos pequenos objetos que resistem ao tempo e nos gestos de quem decide preservá-los.

Na Glórias, acreditamos exatamente nisso: que a memória se constrói em rede, com o olhar atento de colecionadores, a expertise de pesquisadores e o compromisso ético dos comerciantes especializados. Trabalhamos para que mais pessoas possam acessar, estudar e se emocionar com a história viva do Brasil e do mundo. Como mostra o exemplo de Roberto, preservar é também um ato de amor e responsabilidade. E, para isso, estamos juntos.

Queremos deixar aqui um agradecimento especial — a Roberto, a esposa dele e a todos os colecionadores com quem temos o privilégio de trocar ideias, informações e descobertas.

Muitas vezes, os maiores especialistas em uma temática, personagem ou época não estão nos centros acadêmicos, mas sim entre os colecionadores privados, movidos por uma paixão profunda e por uma dedicação incansável. São eles que nos revelam detalhes, ou mesmo erros, que escapam aos olhos dos livros e dos museus — e, para nós, que atuamos na descoberta e circulação de documentos históricos, essa parceria é simplesmente essencial.

Mathias Meyer, fundador de www.glorias.com.br

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