Em 1935, Monteiro Lobato empreende mais uma vez procurando petróleo.
- Carta datilografada assinada por Monteiro Lobato para Manoel Ganisto.
- Uma página.
- Em português.
- 22 cm x 28.5 cm.
- 10 de fevereiro 1935, São Paulo.
- Com três fotografias de um poço de petróleo, cada uma 11 cm x 6.5 cm.
- Excelente estado de conservação.
- Conjunto único.
Extrato da carta
(...) Meu caro amigo, sou um raté das letras. Sempre me preocupe com elas acidentalmente, embora na essencia não passei de um literato.Tive meus violons de Ingres, e vários. Mil negocios, industrias, o diabo. Varias faillites. Em Nova Iorque, entendi de ficar milionário a força e arruinei-me na bolsa. Agora estou tentando novamente a "grande tacada" e desta vez com petroleo. Formei a Cia Petroleos do Petroleo e estou perfurando. Estamos com um bellissimo poço já com 1100 metros de profundidade, e cheio de esperança de tocar numa grande formação do precioso liquido que governa o mundo. Incluo nesto umas fotos da nossa sonda ou do campo Petrolifero do Araquá, como chamamos.
A tremendo luta subterranea que a pesquisa do petroleo determina (luta contra a peste da Standard Oil) absorve-me todo o tempo e a atividade. Não me sobra tempo para a literatura, nem para leituras. Estou ficando analfabeto, essa delicia.
Admiro grandemente a sua constancia, meu amigo, de ficar sempre no mesmo campo, a cultivar carinhosamente o espirito e a acompanhar de longe a atividade literaria desta china sul americana. Que paciência e que trabalho inutil! Somos ainda um grande zero do mundo e selo-emos por muito tempo ainda porque o brasileiro sofre dum mal muito sério. Imagine que o brasileiro não pensa com o cerebro. Pensa com um outro orgão qualquer do corpo que ainda não descobri qual seja. As asneiras que fazemos por intermedio do que chamamos Governo levaram-me á crença de que é impossivel que pensemos com o cerebro. Será com o calcanhar? Será com os testiculos? Eis o problema. (...)
Lobato é, praticamente, o fundador da literatura infantil brasileira moderna. Conseguiu encantar gerações de crianças e adultos com uma linguagem muito simples. Suas obras, principalmente os 23 volumes do Sítio do Pica Pau Amarelo, fazem parte da cultura brasileira e são conhecidas internacionalmente, existem traduções até na China.
Porém, não podemos falar de Monteiro Lobato sem lembrar do seu engajamento político e das questões polêmicas em que já esteve envolvido, em particular o petróleo. Há exatamente 80 anos, o Brasil descobria seu primeiro poço de petróleo, em Salvador (Bahia). Já sem a herança do avô e sem sua editora, apostou na pesquisa e na prospecção do petróleo tanto para se firmar como empreendedor, como para dar a oportunidade ao Brasil de se desenvolver mais rapidamente e de forma independente.
Criticando publicamente a associação entre o governo brasileiro e a empresa petrolífera norte-americana Standard Oil, ele criticou o presidente Getúlio Vargas para que ele priorizasse os interesses do estado brasileiro. Essa batalha levou à prisão do escritor de janeiro a junho de 1941.
Irônica, crítica, polêmica... Essa carta impactante e essas fotografias inéditas, encontradas na França recentemente, mostram o quanto o escritor era um cidadão muito bem informado, um intelectual com fortes convicções e um empresário audacioso, especialmente quando se falava do petróleo. Uma peça muito importante para quem ama a literatura e a história do Brasil, ou simplesmente admira um dos maiores escritores brasileiros.