O único condenado do escândalo do Canal do Panamá expressa seus sentimentos sobre a cadeia e a justiça.
- Carta histórica do deputado Charles Baïhaut, preso na cadeia de Etampes, para um amigo.
- Quatro páginas.
- Em francês.
- 13 cm x 20 cm.
- Etampes, 12 de agosto de 1893.
- Excelente estado de conservação.
- Peça única.
Extrato
(...) eu tinha, admito, em 1886, uma hora de fracasso, quando violei a lei. Eu não enganei ninguém, não vendi falsos valores, não cometi nenhum erro, eu não era um chantagista, não sou culpado de uma fraude, eu conclui, sem parcialidade, e sem hipocrisia, um livre contrato : contrato ilegal, mas não uma barganha vergonhosa, um acordo proibido pelo código, mas o que pode explicar a consciência, se não for pelo absurdo. Essa é a culpa.
(…) Eu reembolsarei na íntegra o montante recebido, o resto do meu dinheiro vai para a Receita Federal, eu perco os meus direitos, minha condição, minha carreira, eu passei longos meses longe daqueles que eu amo, sofri todos os ultrajes e todas as torturas, sofri e chorei.
(…) Esta é a minha opinião. Que comparemos à dos outros. Talvez eu pudesse me considerar deixado de lado pela sociedade humana, esta sociedade é muito difícil de manter o respeito, uma vez que atinge um sem acertar todos os culpados, uma vez que a alegada aplicação da lei é que é uma paródia da justiça absoluta.
O escândalo do Panamá é um caso de corrupção relacionado à construção do Canal do Panamá, no final do século XIX. O objetivo da obra era facilitar a circulação de mercadorias e pessoas entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, sem que os barcos precisassem contornar a América do Sul. Em 1879, o francês Ferdinand de Lesseps, famoso pela criação do Canal de Suez, é escolhido por um comitê internacional para iniciar o projeto de 75 km no Panamá.
Iniciada em 1881, a obra atrasou rapidamente por culpa de doenças tropicais e muitos acidentes. Lesseps organizou então subscrições públicas para financiar o seu projeto, cada vez mais caro. Pressionado, desviou uma parte desses fundos para subornar jornalistas e políticos que podiam ocultar as dificuldades do estaleiro e votar em novas leis para a emissão de um empréstimo. A estratégia fracassou e a Companhia é colocada em liquidação o 4 de fevereiro de 1889, causando a falência de 85 000 acionistas. Os Estados Unidos da América acabaram o canal, finalmente, em 1914.
Em 1892, um jornalista denunciou o caso, colocando sob suspeita de corrupção dezenas de deputados e ministros; Charles Baïhaut (1843 - 1917) foi o único que admitiu o crime e foi condenado a cinco anos de prisão em Etampes, de onde escreveu esta carta emocionante.
O conteúdo inédito e extenso desta carta de Charles Baïhaut é uma testemunha histórica do primeiro grande escândalo de corrupção pública, ocasionado pela construção de uma obra gigantesca, o Canal do Panamá, que iria mudar definitivamente o comércio mundial.