Em 1927, internado na Suíça, Alberto Santos Dumont continua se interessando e torcendo por outros pioneiros da aviação.
- Carta manuscrita de Santos Dumont para Tissandier.
- Uma página.
- Em francês.
- 18 cm x 21.5 cm.
- 17 de fevereiro de 1927.
- Valmont, Suiça.
- Estado perfeito de conservação, exceto uma pequena mancha de tinta azul (digital de Santos Dumont?) na última frase antes da assinatura.
- Peça única.
Transcrição em francês
Mon cher Tissandier
Très content de vous savoir dans la bonne neige et en compagnie de votre petit. En voilà un qui sera fort. Merci pour l´”abrasso” de Mr Bettancourt.
Je ne sais pas si je vous ai déjà dit, mais je suis en train de travailler ici à maitriser l´art de la “reliure” et avec beaucoup de plaisir et succès.
Ortis qui est un connaisseur et qui est ici, m´a fait beaucoup de compliments. Ortis c est le directeur de Vogue. Pensez vous que Pinedo va traverser de l´Afrique au Brésil d´un seul bond ? Ca sera beau.
Mes amitiés à tous les amis de Megève
En vous souhaitant encore de grandes glissades et des beaux arrêts votre ami
Santos Dumont
Valmont 17.2.27
Tradução em português
Meu caro Tissandier,
Muito contente por saber que você está na boa neve e na companhia do seu pequeno. Aí está alguém que será forte. Obrigado pelo “abrasso” do Sr. Bettancourt.
Não sei se já lhe disse, mas estou trabalhando aqui para dominar a arte da “encadernação” e com muito prazer e sucesso. Ortis, que é um conhecedor e está aqui, me fez muitos elogios. Ortis é o diretor da Vogue. Você acha que Pinedo vai atravessar da África para o Brasil de uma só vez? Isso será bonito.
Minhas saudações a todos os amigos de Megève. Desejando-lhe ainda grandes deslizadas e belas paradas, seu amigo,
Santos Dumont
Valmont, 17.2.27
Em 1927, Santos Dumont passou um tempo em Valmont, uma clínica renomada na Suíça, para descansar e receber cuidados médicos. Naquela época, ele havia se retirado das atividades aeronáuticas, pois seu estado de saúde estava se deteriorando, tanto física quanto psicologicamente. Em Valmont, ele convivia com outras personalidades da época, como o diretor da revista Vogue, com quem compartilhava a paixão pela encadernação.
Nesta carta ao seu amigo Tissandier, ele menciona Francesco de Pinedo, que era um famoso aviador italiano. Pinedo havia realizado duas viagens fantásticas ao redor do mundo. A primeira, em 1925, o levou de Roma ao Japão e de volta a Roma, passando pela Austrália. A segunda, que nos interessa aqui, ocorreu em 1927 e consistiu em um circuito que partiu de Roma em direção às florestas amazônicas do Brasil, retornando a Roma, passando pelos Estados Unidos, Terra Nova e o norte do Atlântico. Essa segunda viagem foi uma sugestão de Mussolini, que queria despertar um sentimento de orgulho nacional nos imigrantes italianos da América do Norte. O circuito, difícil, serviria para demonstrar a qualidade e versatilidade dos aviões italianos, bem como a bravura de seus pilotos.
Em 13 de fevereiro de 1927, o piloto e seus dois tripulantes (um navegador e um mecânico) decolaram a bordo do Santa Maria em direção ao norte da África. A viagem foi, sem dúvida, épica e marcada por incidentes que transformam homens em heróis, e foi assim que eles foram recebidos no Brasil. A viagem continuou, a Amazônia foi atravessada e o avião logo sobrevoou o território americano, sendo a primeira vez que uma aeronave estrangeira fez isso.
Aqui temos uma carta de Santos Dumont muito interessante: em excelente estado, ela menciona tanto a vida pessoal de Santos Dumont, retirado em Valmont, quanto seu contínuo entusiasmo pelos progressos da aviação. As cartas de Santos Dumont são muito procuradas, especialmente no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, particularmente aquelas — as mais raras — em que Santos Dumont fala sobre aviação.
