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Três cartas manuscritas de Cândido Portinari (anos 1940)

Três cartas manuscritas de Cândido Portinari (anos 1940)

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"Tenho trabalhado pouco, mas agora vou começar."

  • Três cartas manuscritas inéditas de Cândido Portinari, uma para Marques Rebelo, as duas outras para Enrico Bianco.
  • Uma página por carta, três no total + 1 envelope.
  • +/- 21 cm x 28 cm.
  • Em português.
  • Escritas de Brodowski em 1945, São Paulo em 1939, a última não tem data (mesma época) e localização.
  • Excelente estado de conservação.
  • Conjunto único.

Trecho da carta de 1945

Brodowski. 1 - 2 - [1]945

Caro Marques

Recebi sua carta foi uma / agradavel surpresa saber / que v[ocê] vai a Buenos Aires / levar uma exposição de / pintura e que o velho Santos / tambem participa. Dia aonde / estão os dois eu entro / mesmo sem saber para o / que é. Por isso v[ocê] pode / contar que em fins de / Março v[ocê] terá minha / contribuição. / Tenho trabalhado pouco / mas agora vou começar / a trabalhar. / Se v[ocê] quizer dar um pulo / até aqui dará prazer a / todos os Portinaris. / Lembranças de Maria e de todos / para v[ocê]s todos. Abraço do seu / velho Portinari (assinado)

Existem alguns nomes que marcam gerações; alguns, talvez, que escrevem a história de um país. Porém, poucos são aqueles que se tornam reconhecidos por suas contribuições culturais além das fronteiras geográficas. Essas pessoas transformam a humanidade e criam formas de expressão que definem o mundo depois de sua passagem. Não é difícil lembrar de alguns exemplos: Leonardo Da Vinci, Virginia Woolf, Marie Curie. No entanto, em qual personalidade brasileira pensaríamos para essa lista?

Talvez um dos primeiros nomes que nos venha à mente seja o do pintor Cândido Portinari (1903 - 1962), autor de mais de 500 obras de arte, entre as quais se encontra “Guerra e Paz”, exposta na Sede das Nações Unidas em Nova York desde 1956. Portinari nasceu em uma fazenda de café, na cidade de Brodowski, no interior de São Paulo, em 1903. A vocação artística despontou já durante a infância. Ainda jovem, Portinari abandonou os estudos e, aos 14 anos, se uniu a uma trupe de pintores e escultores italianos. Já aos 16, ele decidiu apostar todas as fichas em seu talento: deixou São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes.

A partir daí, a carreira de Portinari deslanchou. Foram prêmios, viagens e exposições internacionais que fizeram o artista desbravar o mundo. Uma dessas exposições ocorreu no MNBA, em 1954, em Buenos Aires, organizada por Marques Rebelo, escritor reconhecido por sua obra literária e por ser um promotor da pintura e literatura brasileiras no exterior. A carta assinada por Portinari e destinada a Marques revela que participar de tal exposição foi para o pintor uma grata surpresa. Portinari afirmou que, onde estivesse Marques, ele estaria “mesmo sem saber para o que é”, o que demonstra uma grande confiança por parte do artista. Na carta, Portinari revela ainda detalhes de sua vida e convida Marques para uma visita. Seriam eles, além das óbvias afinidades artísticas, bons amigos? O afetuoso abraço de Portinari ao final de sua missiva parece indicar que sim.

As duas outras cartas são interessantes também porque oferecem uma visão íntima e cotidiana da vida de Cândido Portinari, complementando o conhecimento que temos sobre sua obra e carreira pública. Elas confirmam sua meticulosidade, sua rede de contatos próximos e sua capacidade de gerenciar tanto aspectos artísticos quanto logísticos de sua vida e carreira.

Além disso, mostram a confiança que ele depositava em Enrico Bianco (1918-2013), também pintor, ilustrador e gravador ítalo-brasileiro. Nascido em Roma, Itália, Bianco emigrou para o Brasil em 1937, onde se tornou um dos principais colaboradores de Cândido Portinari, um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX.

Pintor de fortes ideais expressados em sua obra, que retrata a miscigenação e o cotidiano do Brasil, Portinari, filho de imigrantes italianos, mostrou ao mundo as peculiaridades e a força do povo brasileiro, do qual era grande defensor. Sua paixão pela pintura custou-lhe a vida; o artista morreu devido a uma intoxicação provocada pelas tintas que usava em seus quadros. Portinari viveu seu amor até às últimas consequências e ensinou que um grande artista pode ser proveniente das mais humildes origens e, ainda assim, alcançar os mais distantes cantos do mundo por meio de sua dedicação e talento. Cartas de Candido Portinari são extremamente raras; esse conjunto é o primeiro que apresentamos na coleção Glórias.

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