"Tenho trabalhado pouco, mas agora vou começar."
- Carta manuscrita inédita de Cândido Portinari para Marques Rebelo.
- Uma folha, uma página.
- +/- 21 cm x 28 cm.
- Em português.
- Escritas de Brodowski em 1945.
- Excelente estado de conservação.
- Conjunto único.
Trecho da carta
Brodowski. 1 - 2 - [1]945
Caro Marques
Recebi sua carta foi uma / agradavel surpresa saber / que v[ocê] vai a Buenos Aires / levar uma exposição de / pintura e que o velho Santos / tambem participa. Dia aonde / estão os dois eu entro / mesmo sem saber para o / que é. Por isso v[ocê] pode / contar que em fins de / Março v[ocê] terá minha / contribuição. / Tenho trabalhado pouco / mas agora vou começar / a trabalhar. / Se v[ocê] quizer dar um pulo / até aqui dará prazer a / todos os Portinaris. / Lembranças de Maria e de todos / para v[ocê]s todos. Abraço do seu / velho Portinari (assinado)
Existem alguns nomes que marcam gerações; alguns, talvez, que escrevem a história de um país. Porém, poucos são aqueles que se tornam reconhecidos por suas contribuições culturais além das fronteiras geográficas. Essas pessoas transformam a humanidade e criam formas de expressão que definem o mundo depois de sua passagem. Não é difícil lembrar de alguns exemplos: Leonardo Da Vinci, Virginia Woolf, Marie Curie. No entanto, em qual personalidade brasileira pensaríamos para essa lista?
Talvez um dos primeiros nomes que nos venha à mente seja o do pintor Cândido Portinari (1903 - 1962), autor de mais de 500 obras de arte, entre as quais se encontra “Guerra e Paz”, exposta na Sede das Nações Unidas em Nova York desde 1956. Portinari nasceu em uma fazenda de café, na cidade de Brodowski, no interior de São Paulo, em 1903. A vocação artística despontou já durante a infância. Ainda jovem, Portinari abandonou os estudos e, aos 14 anos, se uniu a uma trupe de pintores e escultores italianos. Já aos 16, ele decidiu apostar todas as fichas em seu talento: deixou São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro para estudar na Escola Nacional de Belas Artes.
A partir daí, a carreira de Portinari deslanchou. Foram prêmios, viagens e exposições internacionais que fizeram o artista desbravar o mundo. Uma dessas exposições ocorreu no MNBA, em 1954, em Buenos Aires, organizada por Marques Rebelo, escritor reconhecido por sua obra literária e por ser um promotor da pintura e literatura brasileiras no exterior. A carta assinada por Portinari e destinada a Marques revela que participar de tal exposição foi para o pintor uma grata surpresa. Portinari afirmou que, onde estivesse Marques, ele estaria “mesmo sem saber para o que é”, o que demonstra uma grande confiança por parte do artista. Na carta, Portinari revela ainda detalhes de sua vida e convida Marques para uma visita. Seriam eles, além das óbvias afinidades artísticas, bons amigos? O afetuoso abraço de Portinari ao final de sua missiva parece indicar que sim.
Pintor de fortes ideais expressados em sua obra, que retrata a miscigenação e o cotidiano do Brasil, Portinari, filho de imigrantes italianos, mostrou ao mundo as peculiaridades e a força do povo brasileiro, do qual era grande defensor. Sua paixão pela pintura custou-lhe a vida; o artista morreu devido a uma intoxicação provocada pelas tintas que usava em seus quadros. Portinari viveu seu amor até às últimas consequências e ensinou que um grande artista pode ser proveniente das mais humildes origens e, ainda assim, alcançar os mais distantes cantos do mundo por meio de sua dedicação e talento.
Cartas de Candido Portinari são extremamente raras; esta carta manuscrita é a primeira que apresentamos.