Em Roma, o renomado diplomata brasileiro Felix Pacheco expressa sua fascinação pelo fundador do fascismo italiano Benito Mussolini.
- Carta manuscrita do diplomata brasileiro Felix Pacheco para o ditador Benito Mussolini.
- Três páginas com o papel e cabeçalho do Grand Hotel De Russie, em Roma.
- Em Português.
- 14,5 cm x 19 cm.
- Roma, Itália, na década 20 ou 30.
- Excelente estado de conservação.
- Peça única.
A Sua Excellencia o Sr. Presidente Benito Musolini.
Não quero partir de Roma sem repetir de modo muito especial a Vossa Excellencia a minha profunda admiração pela sua admiravel obra de governo. Percorri a Italia de norte a sul e notei por toda parte uma febre de acção renovadora que faz honra á capacidade de reconstruir, que foi sempre o apanagio do espirito latino e ennobrece sobremodo o regimem que integrou sob novos moldes esta grande terra de ordem, de belleza, de cultura, de força e de sonho.
Disente-se muito lá fora o faseismo como doutrina, mas o que ninguem pode discutir sem mà fé é o conjuncto brilhante de victorias que o partido creado pelo genio vigoroso de Vossa Excellencia tem sabido obter no terreno das realisações effectivas. A Italia agiganta-se agora triplicemente cohesa e unida, no sceptro da Casa de Saboya, na reconciliação com a Igreja e no enthusiasmo geral que se observa pela orientação de Chefe de Governo.
O retrato que Vossa Excellencia teve a bondade de offerecer-me tem seu lugar marcado sobre a minha mesa de trabalho do lado da [de Sua Alteza – rasurado] photographia o Principe Herdeiro, de quem tive a honra de receber no Estado da Bahia, como Ministro das Relações Exteriores de meus pais, quando Sua Alteza passou pelo Brasil.
Renovo a Vossa Excellencia a expressão dos meus melhores agradecimentos.
Felix Pacheco
Grã Cruz da Ordem da Coroa da Itália
Director do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, e ex - Ministro das Relações Exteriores do Rio de Janeiro
Felix Pacheco (1879 - 1935) foi um jornalista e escritor respeitado e um dos donos do Jornal do Commercio, um dos mais antigos jornais brasileiros ainda em circulação. Eleito várias vezes como deputado federal e senador, assumiu o cargo de Ministro das Relações Exteriores no governo Artur Bernardes (1922-1926), o que o levou a uma carreira diplomática na Itália.
Benito Mussolini (1880 - 1945) tornou-se o primeiro-ministro da Itália em 1922 e é conhecido como uma das figuras-chave na criação do Fascismo.
Durante as décadas de 20 e 30, vários membros do governo federal brasileiro e diplomatas em atuação na Itália tinham simpatias pelo fascismo. Tal proximidade se expressava com a troca de condecorações e favores ou, de forma mais relevante, com o apoio brasileiro a diversas decisões do governo italiano : por exemplo, a guerra da Abissínia ou a repressão aos antifascistas italianos.
Na esteira da crise de 1929, Getúlio Vargas assumiu o poder no Brasil, que tinha a Alemanha nazista e os Estados Unidos como principais parceiros comerciais. Estratégico para o fornecimento de matéria-prima e ambos os países preparando a guerra, o Brasil acelerou seu comércio com a Alemanha de Adolf Hitler, mas inverteu o quadro quando o governo Vargas decidiu alinhar decisivamente o Brasil com os EUA, após o ataque a Pearl Harbor.
Felix Pacheco era abertamente italianófilo e próximo ao fascismo, como demostra esta carta pela qual, anos mais tarde, ele se arrependeu. Não se sabe se Mussolini realmente recebeu e leu estas linhas, mas ela permanece como uma interessante - e triste - testemunha das hesitações diplomáticas e ideológicas do Brasil às vésperas da Segunda Guerra Mundial.