Em 1966, o urbanista Lúcio Costa está revoltado com a guerra dos Estados Unidos no Vietnã.
- Carta manuscrita de Lúcio Costa para Anthony Kraft.
- Uma página.
- Em português.
- Carta : 16.2 cm x 22 cm. Envelope : 15.0 cm x 9 cm.
- 1966, Rio de Janeiro.
- Estado perfeito de conservação.
- Conjunto único.
Caro AK
Obrigado, não importa, é só que eu esqueci de sinalizar o Japão e a Coréia no meu esboço. Peço desculpas por manter essas observações fúteis enquanto, neste exato momento, estamos matando pessoas e destruindo o trabalho dos homens em uma guerra imoral e imunda no Vietnã.
LC, RJ, 25/?/1966
Lúcio Costa (1902 - 1998) é um urbanista mundialmente conhecido por ter projetado, a partir de 1957, o Plano Piloto de Brasília em parceria com Oscar Niemeyer que, por sua vez, imaginou os famosos prédios da capital brasileira. Anos antes, Niemeyer, jovem arquiteto recém-formado, havia pedido um estágio para Costa. A sua biografia oficial menciona também sua direção da Escola Nacional de Belas Artes e do IPHAN, e sua intensa colaboração com modernistas, como o renomado arquiteto franco-suíço Le Corbusier.
Anthony Kraft era um editor de um periódico de arquitetura em Lausanne na década de 1960. Henri, um dos nossos clientes - e grande colecionador - pensa que "a carta se refere a uma discussão sobre um artigo muito interessante de Lucio Costa que foi publicado na revista em 1967 onde ele fala de formas e funções (...)"
Manuscritos não publicados ou correspondências pessoais de grandes personalidades revelam, muitas vezes, fatos ou mesmo sentimentos e convicções que não estão nos livros. É um dos encantos que apreciam os amadores de documentos raros.
É o caso dessa carta na qual Lúcio Costa fala para um amigo suíço sobre um esquecido projeto envolvendo Japão e Coreia, em plena guerra dos Estados Unidos no Vietnã: uma imensa frustração para o urbanista. A época era conturbada e esse sentimento era compartilhado por milhões de pacifistas no mundo, entre eles grandes artistas, cientistas, atletas, etc.
A história é irônica, pois poucas pessoas sabem, nem mesmos os franceses, que Costa era filho de um engenheiro naval - ou diplomata, não está claro - e nasceu no sul da França, em Toulon, o maior porto militar da Europa.
Cartas de Lúcio Costa são muito raras, essa é a primeira que encontrei nos últimos 10 anos. Ela chama a atenção pela força do conteúdo, obviamente essa impactante opinião política do urbanista, mas também pelo comentário sobre uns dos seus trabalhos que fez seu renome internacional.
Em excelente estado, com seu envelope e o papel oficial do Ministro da Educação, trata-se de uma peça de grande qualidade que um colecionador ou uma instituição que estuda ou trabalha com arquitetura, deveria conservar. Ela valoriza Brasília e também promove a paz no mundo.