Benedito Calixto representa o pelourinho da antiga Praça do Rossio, no Rio de Janeiro, a partir de Debret.
- Desenho e texto, a lápis, de Benedito Calixto sobre o pelourinho no Rio de Janeiro, inspirado em Debret.
- Uma folha com duas páginas, frente e verso.
- 28,5 cm x 21,5 cm.
- Em francês.
- Bom estado de conservação.
- Peça única.
Transcrição da frente
PELOURINHO DO RIO DE JANEIRO
NA ANTIGA PRAÇA DO ROSSIO (desenho do pintor DEBRET)
O que se percebe à primeira vista na Praça do Rocio, uma das mais antigas do Rio de Janeiro, é a coluna de granito encimada por uma esfera armilar em cobre dourado. No capitel da coluna apoiam-se dois pequenos postes de ferro que deixam reconhecer ali um patíbulo — símbolo do direito de alta justiça exercido pelo governo da cidade.
Esse emblema (desenhado por Debret) encontra-se em todas as cidades do interior do Brasil, mas geralmente representado de forma muito rudimentar, por meio de um grande tronco de madeira pintado de vermelho e dois pedaços de ferro pontiagudos, destinados a sugerir um enorme cutelo. Esses ferros, colocados horizontalmente próximos ao centro e recobertos de madeira, formam uma pequena cruz: um deles prolonga-se como se fosse o cabo, e o outro, fixado verticalmente com firmeza, prende-se com força ao topo dos postes.
(Viagem Pitoresca ao Brasil, tomo III)
Transcrição do verso
Os Pelourinhos de Madeira, em algumas vilas do Brasil, conforme desenho o pintor Debret.
Esta folha antiga apresenta um desenho a lápis muito delicado do pelourinho do Rio de Janeiro, localizado na antiga Praça do Rocio (atual Praça Tiradentes). No centro, ergue-se uma coluna de granito esguia, coroada por uma esfera armilar em cobre dourado, símbolo do poder real português, ladeada por pequenos postes de ferro que remetem ao patíbulo. O traço é sóbrio, mas detalhado o suficiente para sugerir o relevo e a imponência da estrutura, enquanto algumas figuras humanas esboçadas ao fundo dão noção de escala. Logo abaixo, uma legenda manuscrita em português indica tratar-se de um desenho do pintor Debret, célebre por registrar a vida no Brasil do século XIX. A parte inferior da folha é ocupada por um texto manuscrito em francês, levemente desbotado, descrevendo a função simbólica do monumento e lembrando sua presença em outras cidades brasileiras como marca do poder judicial colonial.
Benedito Calixto (1853-1927), um dos grandes pintores históricos do Brasil, realizou este estudo a partir da obra de Debret. Ele tinha o hábito de copiar Debret e Rugendas para documentar elementos arquitetônicos e sociais do Brasil colonial. Calixto pintou inúmeras cenas coloniais e históricas, mas a maioria de suas grandes composições está relacionada a São Vicente, Santos, São Paulo e ao litoral paulista; até onde se sabe, nenhuma tela finalizada de Calixto representa diretamente o pelourinho do Rio de Janeiro. Então, este trabalho é provavelmente um exercício preparatório, uma cópia de arquivo ou uma prancha documental, não destinado a uma tela final.
Esta folha tem grande importância histórica e documental, pois realizada por Benedito Calixto, um dos maiores pintores históricos do Brasil, a partir da obra de Debret. Foi muito provavelmente realizada entre 1895 e 1915, período em que Benedito Calixto se dedicava a projetos de memória histórica, consultava as obras de Debret e produzia estudos documentais para suas composições e encomendas institucionais. Ela registra com precisão o pelourinho da antiga Praça do Rossio, no Rio de Janeiro, monumento simbólico do período colonial que já não existe. A raridade da peça reside na combinação entre o desenho minucioso e o texto explicativo manuscrito em francês, evidenciando o acesso direto de Calixto às fontes originais e sua preocupação em preservar a memória visual do país. Trata-se de um testemunho singular de sua prática como artista e pesquisador, unindo arte e erudição histórica em um suporte excepcional, difícil de encontrar tanto em coleções particulares quanto em acervos institucionais.