Necrologia de Dom Pedro II (1891)
Necrologia de Dom Pedro II (1891)
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Na sua necrologia de Dom Pedro II, um amigo íntimo da escritora francesa George Sand confia muitos detalhes inéditos sobre a vida do imperador.
- Necrologia de Dom Pedro II por Edmond Planchut.
- 12 páginas.
- Em francês.
- 13.6 cm x 21.2 cm.
- França, região de Cannes, 1891.
- Excelente estado de conservação.
- Peça única.
Trechos
Somente no século XIX, quantos reis, imperadores poderosos, semelhantes ao cedro, como fala o poeta, viram a foice cair sobre suas cabeças altivas e foram varridos em consequência de uma turbulência revolucionária ? (...) Entre todos esses soberanos de vários títulos despossuídos, certamente há um que é uma exceção, uma notável exceção : Dom Pedro de Alcântara, o Imperador do Brasil.
Portanto, só vou fazer um esboço do príncipe e este esboço o descreverá como eu o vejo, quando eu tive a honra de ser admitido, durante os últimos invernos que ele passou na França. Foi Cannes, de todas as estações de inverno que lhe foram apresentadas, a que ele mais amou. A minha convicção é que o nobre proscrito veio menos para desfrutar de uma temperatura suave e os raios de um sol vivificante, do que procurar no horizonte do golfo azul que acontece ali, uma visão vaporosa da baía do Rio de Janeiro (...).
Depois de alguns minutos de conversa com Dom Pedro, no salão do hotel cujo primeiro andar ele ocupava, estávamos convencidos de que o que o preocupava menos era - não o império dele -, mas a coroa perdida (...). Em uma das sessões da sociedade literária da cidade, das quais ele nunca deixou de participar, um poeta de talento, M. Liegeant achou seu dever fazer em sua presença a história de sua vida política. O imperador, profundamente emocionado, agradeceu com cortesia o orador, mas este retorno a um passado que ele tentou esquecer, afetou-o muito : ele estava até, por alguns dias, seriamente doente. Foi dito e, quando a mesma sociedade o convocou novamente, eles falaram apenas de viajar, de história natural e de arqueologia.
Na sala de estar que falei (...), as mesas, os sofás, as cadeiras (...) estavam cobertas de jornais, revistas, romances do dia, fotografias e partituras de óperas. Ainda havia os livros em árabe, hebraico, espanhol, inglês e português que ele traduzia fluentemente e que ele gostava de ler algumas passagens, assim que a oportunidade se apresentasse.
Esse imperador estava entusiasmado com a poesia e passou a julgar Victor Hugo, que visitou várias vezes em Paris, como o maior dos poetas franceses.
Tinha uma profunda antipatia pelos romancistas e a nova escola realista. Ele não lhes negou um enorme talento, mas, como tantos outros, perguntou-se onde era necessário fingir e ver a humanidade apenas por seus lados abjetos. Ele os comparou a Walter Scott, Octave Feuillet e especialmente a George Sand, que considerava a maior escritora, o gênio mais literário do século. E então ele me citou, pois tinha uma memória prodigiosa, o que a ilustre escritora escreveu (...).
(...) Ele havia dito a George Sand sobre seu desejo de conhecê-la e cumprimentá-la em Berry, no castelo de Nohant, onde ela morava. O pedido de Dom Pedro (...) não teve sucesso. Madame Sand, que tinha uma grande simplicidade de gostos, temia não ter para sua habitação, mais rural do que senhorial, todo o conforto a que ela supunha um soberano acostumado, fingiu um impedimento. Quando eu comentei com sua majestade que sempre fui anfitrião de Nohant, o Imperador renovou seu profundo arrependimento por não ter conhecido a ilustre escritora. Então, ao saber que sempre mantive relações amigáveis com suas duas netas, Aurore e Gabrielle, pediu-me para dizer a elas, com muita insistência, a admiração que ele tinha pela ilustre avó.
Nenhuma existência era mais calma, melhor organizada, do que a do imperador Dom Pedro de Alcântara. Com exceção do desconforto temporário de que falei, nunca o vimos doente.
Todos os dias, a menos que o vento fosse muito forte, o Imperador saía (...) ; Ele era invariavelmente acompanhado por seu médico e seu camareiro. Nenhuma medalha no seu paletó (...). Ele se fazia conduzir pela estrada para Antibes ou Frejus, retornando invariavelmente por um belo passeio que corre ao longo do mar e que se chama La Croisette, (...), com um passo firme e rápido. Quando ele encontrava um rosto familiar em seu caminho, ele parava e, depois de uma troca cordial, com um aperto de mão, ele continuava sua caminhada até o almoço. Uma parte da tarde era dedicada a ela, Madame Condessa de Anjou, em um novo passeio de carro.
As noites, com alguns amigos íntimos, ocorriam em torno de uma mesa de bilhar no hotel. Ele podia ser convidado para uma festa elegante em uma dessas villas de Cannes, que são maravilhas. A senhorita Ruth Mercier, uma aquarelista de imenso talento, podia convidá-lo para a exibição de suas pinturas. Ou então ele era chamado para uma obra de caridade, um concerto, a representação de uma peça inédita, Dom Pedro nunca deixava de ir. O mesmo acontecia quando um renomado artista vinha tocar no teatro da cidade. Ele pagava os ingressos como um mero mortal e, como tal, muito modesto, os melhores assentos não estavam reservados para ele. Certa noite ficou satisfeito com um assento isolado (...), cuja entrada estava eriçada com marchas irregulares. Mais de um espectador ficou triste, só o Imperador pareceu não se importar (...).
Fotógrafos e pintores o abordavam incessantemente e, tão grande era a bondade, ele sempre se entregava. Tinha cerca de cinquenta anos, realmente muito lindo. Um dia, quando ele posava para um pintor amigo meu, sua majestade me disse em uma língua estrangeira, para não ser entendido pelo artista :
"Quais mãos esse homem está pintando, veja se elas se parecem com as minhas ?"
Todos aqueles passatempos aos quais ele se prestava por bondade, e também pelo amor de tudo o que estava longe ou perto da literatura e da ciência, não o impediam de seguir com interesse o que estava acontecendo sob a cúpula do Instituto. Foi ao sair, mal coberto, de uma das sessões da Academia de Ciências Morais e Políticas, de que ele era membro, que um arrepio agarrou-o e levou-o ao túmulo.
Como os anos anteriores, se ele tivesse retomado antes dos primeiros frios do inverno, o caminho ensolarado da Cote d'Azur, Dom Pedro ainda seria um dos convidados mais queridos. Deve-se acrescentar que as repercussões dos distúrbios que mais uma vez agitaram o Brasil o alcançavam mais rapidamente em Paris do que em uma praia distante, e foi sem dúvida o que o fez adiar sua partida para Cannes. Ele devia morar ali apenas pela memória e pelo vazio que deixou por lá. Enquanto escrevo essas linhas, amigos (...) me anunciam com uma triste surpresa que eles acham menos animação nas proximidades de Cannes do que no passado e, no passeio encantador da Croisette, uma multidão menos animada que a dos anos precedentes.
A ausência ou a partida de uma pessoa, mesmo o Imperador do Brasil, certamente não pode ser a causa do vazio que meus amigos percebem. No entanto, quando todos os dias, ao mesmo tempo, no mesmo passeio e durante anos, os olhos se acostumaram a encontrar um rosto amado, ou um desses personagens augustos que, como Dom Pedro, inspiram a simpatia, é natural que o hábito cessando, sentimos a tristeza como um grande vazio para o coração.
Edmond Planchut era um jornalista e aventureiro, amigo íntimo da brilhante e escandalosa escritora francesa George Sand (1804 - 1876) e de suas filhas. Sand era uma feminista pioneira que Dom Pedro II admirava, o que a Princesa Isabel desaprovava, como comprova uma carta dela para o pai : "Nem uma linhazinha para mim, e acha tempo para ir visitar George Sand, uma mulher de muito talento, é verdade, mas também tão imoral ! (...) Por mais incognitozinho que vá, sempre se sabe quem é o Sr. Dom Pedro de Alcântara, e não deve ser ele antes de tudo um bom católico e, portanto, afastar de si o que for imoral ?"
Este texto é uma testemunha preciosa sobre o imperador do Brasil, escrita por alguém que conviveu diretamente com ele em Cannes, durante meses, no sul da França. Os gostos simples e a modéstia do imperador, apesar do seu prestigio e da sua imensa cultura, a admiração dele pelos escritores George Sand e Victor Hugo, o prazer de vir a Cannes para longas caminhadas, a saudade do Brasil e do seu povo e, por fim, as circunstâncias de sua morte e o impacto que houve na França, chamam a atenção do leitor que tem em mãos esse documento excepcional.
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