Com quase 100 anos, Oscar Niemeyer escreve sobre Brasília, suas obras, o tempo que corre e desenha a sua maior inspiração: mulheres.

• Bloco de rascunho de Oscar Niemeyer, com nove páginas de texto e seis desenhos originais.
• Sem informação sobre a localização, anos 2000. 15 folhas, nada no verso delas.
• 28 cm x 20 cm.
• Em português.
• Excelente estado de conservação, uma leve marca de dobra na parte superior.
• Peça única.

Já faz 10 anos que Oscar Niemeyer se foi, com 104 anos e uma vida de trabalho e obras extraordinárias no Brasil e no mundo. Para comemorar essa data, lhes apresento um documento excepcional para quem gosta de arquitetura ou simplesmente de beleza.

Trata-se de um conjunto de folhas presas em um bloco de Niemeyer. Primeiro, são nove páginas de texto e depois, seis desenhos (um em cada folha). Confesso que o conjunto fica em grande parte misterioso, pelo fato da escrita de Niemeyer ser quase ilegível. 

O que sei de forma segura, é que é da mão de Niemeyer, e que parou em uma livraria tradicional do Rio de Janeiro, que o Arquiteto frequentava. A livraria infelizmente fechou, como muitas outras nos últimos anos. Mas consegui resgatar esse tesouro.

É comovente para mim saber que (...) agora vão ser mesmo em Portugal (...) se foram durante muitos anos (...) foi com entusiasmo que recebi a notícia de que a (...) meus trabalhos serão exibidos em Lisboa Portugal, arquitetos (...) vamos falar da arquitetura de Brasília (...) cortesia (...) o tempo corre, os governantes se sucedem (...) contatos. (...) mas a vida continua (...) foi com prazer que recebi a notícia de que a expo (...) os meus trabalhos (...) portugueses (...) esse amor. Não posso ir a Portugal (...) Brasília comemora o seu aniversário, é o momento de deixar de lado (...) voltamos atrás para lembrar se os que colaboraram (...) lá aparece JK (...).

Uma carta ? Um discurso ? Um futuro livro ? Ou simplesmente pensamentos ? Essas palavras são enigmáticas, porém podemos fazer suposições sobre a data. Pelo fato dele mencionar o aniversário de Brasília, inaugurada em 1960, e essa caligrafia ser característica do final de sua vida, perto do seu centenário, podemos supor que se trata de uma data redonda, talvez 2000 ou 2010. Niemeyer morreu em 2012. Mas como ele fala de uma exposição importante em Portugal, pode ser a exposição universal de 1998, onde foi honrado. 

Gostei de testemunhar os sentimentos dessa grande personalidade e palavras como: “comovente”, “com entusiasmo”, “foi com prazer”, “esse amor”, que mostram o quanto Oscar Niemeyer apreciava o interesse do público e dos profissionais sobre sua obra, mesmo sendo consagrado há décadas. Percebi também uma certa melancolia: “o tempo corre, os governantes se sucedem” e “a vida continua”. Mais importante ainda, para nós colecionadores ou instituições, o fato dele mencionar Brasília e JK, o episódio mais emblemático da sua carreira. 

Os desenhos deste bloco são mais fáceis de entender. Mulheres, sensualidade, erotismo. “Apenas a curva livre e sensual me atrai”, diz. As famosas curvas de Oscar Niemeyer foram as inspirações de quase todas as suas impressionantes construções, esculturas ou móveis. Começou em 1940, em Belo Horizonte. O Palácio da Alvorada em Brasília? Um corpo feminino escultural, segundo o arquiteto monomaníaco, que via linhas gráficas em todo lugar. 

Desenhos atribuídos à Niemeyer não são raros no mercado, mas 95% são falsificações ou cópias. Creio que com a Tarsila do Amaral, Niemeyer fica em primeiro lugar no ranking dos artistas brasileiros mais falsificados. Talvez pela relativa simplicidade dos seus traços. O que é autêntico, muitas vezes está conservado na Fundação Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro. Portanto essas quinze folhas são excepcionais e uma oportunidade única.