Conjunto de documentos sobre a escravidão (século XIX)
Conjunto de documentos sobre a escravidão (século XIX)
Vem com Certificado de Autenticidade e Garantia Digital ☑️
Cinco documentos raros relatam o terrível cotidiano de uma fazenda escravista brasileira no final do século XIX.
-
5 cartas manuscritas e bilhetes de fazendeiros da época da escravidão, provavelmente direcionados a um médico.
- 5 folhas no total, sendo cada documento composto por uma folha. Quatro documentos possuem uma página escrita, e um documento possui três páginas escritas.
- Em português.
- +/- 22 cm x 28,5 cm.
- Os documentos apresentam algumas marcas de picadas de insetos e bordas danificadas. Um deles está mais fragilizado. De forma geral, o papel está delicado e exige muito cuidado no manuseio.
- Conjunto único.
Trechos transcritos em um português moderno
Um escravo fugiu e está sendo procurado
(...) Trata-se do fato de que um escravo meu fugiu no dia 17 de fevereiro deste ano. Segundo informações, ele tomou o rumo da campanha, talvez com intenção de ir ao Estado Oriental, por influência de alguém. Como nunca esteve por aqueles lados, pode ser que se perca no caminho por estar longe da minha supervisão e, por isso, julgue-se já livre.
(...) Quero empregar todos os meios possíveis para capturá-lo e, pensando nisso, lembrei-me que você, pela sua posição e contatos, pode recomendar às pessoas de sua confiança que fiquem atentas e, caso o encontrem, o prendam. A quem conseguir capturá-lo e colocá-lo na prisão, ofereço a quantia de cem mil réis. Solicito também que me informem imediatamente e, se trouxerem o escravo até mim, ofereço duzentos mil réis. Para facilitar a identificação, envio junto alguns boletins com sinais característicos que permitirão reconhecê-lo de imediato.
O proprietário se preocupa com uma escrava ferida pelas suas chicotadas
(...) Anteontem dei algumas chicotadas em uma escrava e acabei tirando a pele dela em duas partes, mas foi algo muito pequeno. Hoje pela manhã, ela se queixou de dores na cabeça e em todo o corpo, da cintura para cima. Dei-lhe um chá de sabugueiro e fiz um banho com mostarda, pois ela dizia que estava com frio, mas não transpirou, apenas aqueceu mais o corpo, e agora afirma que não está mais com frio. Diz que sente dores no quadril e na costela esquerda. Há dois dias, cortou a ponta do dedo mínimo enquanto estava na cozinha; após tratar os dois machucados como um corte, queimei o local com óleo de amêndoas doces. A língua dela está normal.
Um escravista paga pelos grilhões de seus escravos
Despesas realizadas com o escravo João da Cruz:
- Valor pago à Cadeia: 40.710
- Pagamento aos ferreiros para colocar os grilhões: 500
Um escravo reagiu com violência, usando uma faca, após ser confrontado
(...) Durante o percurso, o Compadre foi buscar um gado que estava em outra direção, mas, nesse momento, o escravo levou os animais para trás e disse que o Senhor havia ordenado que ele buscasse aqueles animais, causando um desentendimento com o Compadre. Este tentou corrigir o escravo com um chicote, mas o escravo reagiu com uma faca, que por sorte não o feriu.
(...) O Compadre foi até a casa do Senhor, onde encontrou o escravo, que o insultava de dentro da casa. No caminho de volta, encontrou novamente o escravo, tentou capturá-lo e, para isso, avançou com uma espada. No entanto, o escravo desceu do cavalo, mas manteve o animal sob controle, colocando-se debaixo do pescoço do cavalo. Como o Compadre estava próximo, não conseguiu alcançá-lo, e o escravo fugiu para o mato, proferindo novos insultos.
Um inventário detalha os preços de escravos, sendo a mais nova com 3 ou 4 anos de idade
Inventario
- Bárbara parda idade de 38 anos padece de reumatismo crônico nos braços que a priva de quase todo serviço 800.000
- Joaquina parda idade de 20 annos, costura regular 1.400.000
- Manoel pardo idade de 16 anos aprendiz de marcenaria 1.200.000
- José Mª Idem idade 13 anos 1.000.000
- Isabel Idem idade 8 anos 700.000
(...) Há uma crioula chamada Maria do Carmo, que foi doada pela falecida antes do testamento e posteriormente registrada em escritura pelo valor de 192 ou 198 mil réis, sem depender de inserção. Ela tem entre 3 e 4 anos de idade e, acredito, não precisa ser avaliada novamente. Caso contrário, seu valor seria entre 300 e 350 mil réis. A escrava Bárbara foi libertada por uma escritura anterior ao testamento, mas os herdeiros insistem em que ela seja considerada valiosa.
Um proprietário trata a morte de um escravo velho como uma questão burocrática e sem humanidade
(...) Esta noite faleceu um escravo velho meu, chamado Bastião, e, ao querer providenciar seu enterro, o padre me informou que seria necessária uma certidão de óbito. Esse escravo sempre foi muito manhoso, mas, atualmente, eu não sabia que ele estivesse doente, apenas que tinha muitos parasitas, algo que já havia tratado com o Parente Izidório, que deveria trazer a carroça para levá-lo de uma vez. Assim, peço que faça o favor de enviar a referida certidão; se não houver uma estimativa exata da idade, indique algo aproximado.
A escravidão no Brasil, que durou quase quatro séculos, começou no século XVI com a exploração de indígenas e, posteriormente, com a chegada de cerca de 4,8 milhões de africanos trazidos pelo tráfico transatlântico. Essencial para a economia colonial, principalmente nas plantações de açúcar, café e mineração, os escravizados viviam em condições desumanas, sofrendo violência e trabalho exaustivo. Abolida em 1888 pela Lei Áurea, a escravidão deixou um legado de desigualdade social e racial que ainda marca profundamente a sociedade brasileira.
Alguns documentos dispensam comentários longos, e este conjunto é um exemplo disso. Documentos relacionados à escravidão são relativamente comuns, especialmente os de alforria, mas este conjunto possui um conteúdo particularmente marcante: as cinco folhas retratam a desumanização dos escravos, abordando fugas, violência, controle físico com grilhões, negociações comerciais e o tratamento frio de ferimentos e mortes, refletindo a brutalidade e a indiferença do sistema escravagista. Esses relatos causam calafrios, mas representam um testemunho histórico de grande importância. Foram preservados na mesma família, provavelmente de um médico, desde a época dos acontecimentos.
Uma transcrição completa dos 5 documentos está disponível sob demanda.
Assine nossa newsletter
Achamos tesouros todo mês. Seja o primeiro a saber. E ganhe R$ 200 de desconto para sua primeira aquisição.